Lição 03 - As Diferentes Mudanças Sociais da Família (Jovens)



David Harrad e Toni Reis, que vivem juntos, tentavam adotar uma criança. Depois de dez anos de conflitos nos Tribunais, enfim, no dia 11 de março de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu, por unanimidade, que eles tinham esse direito. Exultante, o senhor Toni Reis afirmou: “O STF não se deixa ser chantageado pela bancada evangélica. Se não tivesse instituições de Estado como o STF, os gays estariam sendo queimados na fogueira como era na Idade Média ou é no Estado Islâmico”. Após a decisão, eles conseguiram adotar Alyson, com dez anos na época, o qual era uma criança problemática, que sofrera maus tratos em várias instituições, todas ligadas a entidades religiosas e que não gostavam de gays. Com o passar do tempo, porém, Alyson se “sentiu finalmente acolhido e hoje faz parte de uma família feliz e está cheio de sonhos”, segundo Toni Reis, e termina: "Ele dança muito bem e quer ser coreógrafo. Ele fez uma apresentação linda na comemoração das minhas bodas com o David. Foi de chorar”. Após isso, os adotantes ainda receberam a guarda provisória de outras duas crianças: Jéssica e Filipe. Toni afirma que todos estão “convivendo muito bem como uma família”.
A história contada possui contornos altruístas. Entretanto, vale a pena perguntar: Qual, realmente, é a situação emocional dessas crianças? Quantos estudos psicológicos e sociológicos foram feitos e quais os resultados? Em que pese a aparente boa vontade dos adotantes, esse novo modelo de homoparentalidade se apresenta maléfico para essas crianças, pois, se não agora, todavia, com certeza no futuro, haverá lacunas referenciais e traumas emocionais.
No princípio, no Jardim do Éden, Deus estabeleceu a monogamia (um homem e uma mulher), como paradigma inicial da família. No entanto, ao longo da história da humanidade, o mais antigo e elementar agrupamento humano, em torno do qual a civilização se desenvolve, reinventou-se em muitos lugares e épocas, surgindo as mais variadas composições familiares, a partir de uma deturpação do plano original (Lameque se tornou o primeiro bígamo - Gn 4.23), como fruto de um padrão de vida distante da presença do Senhor, adotado por Caim e seus descendentes. Depois do desvio de Lameque, o homem não cessou de criar novos “arranjos”, tais como a poligamia (um marido e várias esposas), a poliandria (uma esposa e vários maridos), e o casamento em grupo (não há casais fixos, e as crianças são criadas pela comunidade inteira). Como está escrito: "(...) Deus fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7.29). Ultimamente, porém, apareceu essa nova composição pseudofamiliar: os casamentos homoafetivos (dois homens ou duas mulheres). Para se ter uma ideia de como é recente tal experiência, somente no dia Io de outubro de 1989, na Dinamarca, foi oficializada, pela primeira vez na história da humanidade, a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Dessa forma, o que esperar dessa novidade, tanto no tecido social, quanto em relação ao efeito sobre crianças, que não têm condições cognitivas de se manifestarem sobre esses arranjos da pós-modernidade? Essa é uma questão muito importante!
O simples fato de o Judiciário autorizar o casamento de pessoas do mesmo sexo (que não tem respaldo bíblico) não lhes outorga o direito de adotarem filhos, nem diante da lei dos homens, nem da lei do Senhor, pois, quando a denominada lei de adoção (Lei n° 12.010, de 3 agosto de 2009) foi publicada, não existia a possibilidade do casamento homoafetivo, levando inexoravelmente à conclusão de que essa nova figura chancelada (fazendo uma interpretação histórica, lógica e finalística da legislação) não pode ser admitida para fins de adoção. Vale repisar: nunca, em outra época, as relações homoafetivas foram estabelecidas como modalidade de família, nem muito menos se ouviu falar que homossexuais adotassem filhos!
Como contraponto da adoção supostamente bem-sucedida anteriormente narrada, há a história da americana Heather Barwick, de 31 anos, a qual foi criada por um casal homoafetivo. Ela escreve uma carta aberta aos ativistas homossexuais de todo o mundo:
“Estou escrevendo porque estou saindo do meu armário: eu não apoio o casamento gay. Crianças precisam de uma mãe e um pai. Mas não é pelas razões que vocês estão pensando. Não é porque vocês são gays. Eu amo muito vocês. É por causa da natureza das relações entre pessoas do mesmo sexo. Ao crescer, e até mesmo em meus 20 anos, eu apoiei e defendi o casamento gay. Foi somente com algum tempo e distante de minha infância que eu fui capaz de refletir sobre minhas experiências e reconhecer as consequências a longo prazo que a paternidade do mesmo sexo teve sobre mim. (...) Eu não estou dizendo que vocês não podem ser bons pais. Vocês podem. Eu tive uns dos melhores. Também não estou dizendo que estar sendo criado por pais heterossexuais significa que tudo vai acabar bem. Sabemos que existem muitas maneiras diferentes de a unidade familiar se quebrar e levar as crianças a sofrerem: o divórcio, o abandono, a infidelidade, o abuso, a morte, etc. Mas, em geral, a melhor e mais bem-sucedida estrutura familiar é aquela em que as crianças estão se desenvolvendo com sua mãe e seu pai. (...) Muitos de nós estão com muito medo de falar e dizer-lhe sobre a nossa dor e sofrimento, porque, por alguma razão, parece que vocês não estão ouvindo. Que vocês não querem ouvir. Se dissermos que estamos sofrendo porque fomos criados por pais do mesmo sexo, somos ignorados ou rotulados como inimigos. (...) Eu sei que essa é uma conversa difícil. Mas precisamos falar sobre isso. Se alguém pode falar sobre coisas difíceis, somos nós. Vocês me ensinaram isso”.
Qual experiência deve ser levada em consideração? A de Heather Barwick, que diz sofrer as sequelas da criação por pais do mesmo sexo? Ou dos senhores Toni e David Harrad, que descrevem uma experiência de adoção "aparentemente” cheia de êxito? Certamente a primeira. Quando Heather, de 31 anos, criada por pais do mesmo sexo, redige uma carta, denunciando o enorme prejuízo que sua criação lhe causou, supera, a meu ver, as afirmações de um aparente sucesso do casal Harrad com relação aos primeiros quatro anos de criação de Alyson,
Jéssica e Filipe. Tal ideia não abriga em si um preconceito, de modo algum. Simplesmente, segue a linha do pensamento lógico e da natureza. Inequivocamente, por existir uma diferença de gêneros, um casal gay, ainda que dedique todo o amor a uma criança, nunca poderá oferecer o suporte necessário para ela ser completa em seus referenciais, pois esse arranjo (casamento homoafetivo) não atende ao requisito básico da constituição familiar, que é a existência de um projeto plural, através da família clássica — formada por um homem e uma mulher. As palavras de Heather, na publicação citada, são contundentes:
"Ela [a parentalidade homoafetiva] nos nega algo que precisamos a longo prazo, ao mesmo tempo em que diz não precisarmos do que naturalmente ansiamos. Que vamos ficar bem. Mas nós não vamos. Nós estamos sofrendo”.
No artigo A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil, a psicóloga Edyleine Bellini Peroni Benczik, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), depois de falar sobre a importância do pai biológico na vida da criança, com esteio em pesquisas empíricas de vários estudiosos, arremata:
“Nos dias de hoje, um dos maiores problemas na educação dos filhos é a ausência do pai ou de uma figura que o substitua. Vale ressaltar aqui que a figura paterna pode ser representada por um tio, um avô ou outro adulto do sexo masculino que participe da vida da criança e que tenha um vínculo satisfatório com ela. A educação, para ser equilibrada, necessita dos dois progenitores. A presença paterna na família é diferente e complementar à materna. A falta de um modelo na educação, masculino ou feminino, implica quase sempre um desequilíbrio naquele que é educado (no filho) (Grifo acrescido)".
Ora, sendo reconhecido um risco tão alto e iminente quanto à ocorrência de danos irreparáveis ou de difícil reparação para a criança, como aconteceu no caso de Heather Barwick, não se deve proceder à adoção por casais homoafetivos.
É preciso, porém, ter coragem para ir além dos academicismos e do racionalismo das escolas de pensamento liberal, apegando-se ao que a Palavra de Deus diz para o homem. As diferenças de gênero devem ser admitidas teoricamente por todos, uma vez que, no dia a dia, isso é muito claro. Não adianta querer “tapar o sol com uma peneira”, como se diz popularmente.
Há uma velha máxima jurídica a qual afirma que ser justo é tratar igualmente os iguais e os desiguais na medida da sua desigualdade. No Brasil, como também nos EUA, essa diretriz teórica, embora parcialmente, é observada. Por exemplo: nesses países, há restrições quanto aos homossexuais masculinos serem admitidos como doadores de sangue, porque os governos entendem que, pelo menos por enquanto, não é seguro receber doações desse grupo, por causa do alto grau de transmissão da Aids nesse segmento social. Igualmente, podem ser citadas no Brasil as distinções de tratamento entre os gêneros nas questões alusivas à obrigatoriedade do serviço militar, no prazo para concessão de aposentadoria por tempo de serviço e no período de gozo de licença à maternidade e paternidade, dentre muitas outras, demonstrando tratamento não isonômico entre homens e mulheres, fazendo emergir, por conseguinte, a presunção que o próprio Estado brasileiro não acredita na ideologia de gênero, reconhecendo diferenças inatas entre homens e mulheres.
O professor Trond Diseth, diretor médico do departamento de psiquiatria infantil do Hospital Nacional da Noruega, desenvolveu um teste para averiguar diferenças de gênero em bebês de pouca idade. No referido documentário, ele diz:
“Nós definimos dez brinquedos diferentes: quatro brinquedos femininos, quatro masculinos e os chamados brinquedos neutros. Esses dez brinquedos são colocados em um padrão. Então, nós filmamos. Observamos as crianças interagindo com os brinquedos. Percebem-se claras diferenças entre meninos e meninas saudáveis desde a idade de nove meses. Os meninos escolhem brinquedos masculinos, e as meninas escolhem brinquedos femininos. As crianças nascem com uma disposição biológica clara quanto a seu gênero, identidade e comportamento. Então, o ambiente, expectativas e valores que nos cercam irão reforçar ou minorar isso”.
A Bíblia é muito clara em distinguir os papéis do macho e da fêmea na sociedade sem, entretanto, colocar um gênero como sendo mais importante que outro — a sociedade distante de Deus é quem faz isso. Mas, orientados pela Bíblia, todos são iguais diante de Deus!
É preciso ser forte na postura e resoluto no caráter. O futuro poderá exigir uma conta muito alta daqueles que optarem pela tendência da moda, a onda do momento, esquecendo-se das coisas mais caras e preciosas para a civilização humana, que são os valores das famílias monogâmicas e heterossexuais, os quais proporcionam o equilíbrio e a grandeza da convivência em sociedade.
Essa contracultura, que é abraçada pela cosmovisão judaico-cristã, deve ser plenamente difundida e defendida. Porém, tudo isso, com todo o respeito e amor, sem palavras ríspidas, deselegantes, pois estão em discussão direitos muito caros para todos, que comovem o íntimo das pessoas.
Com isso, em suma, está se defendendo que casais homossexuais não podem ser considerados família e, por isso, não podem adotar crianças. Não se trata de menosprezar os homossexuais, muito menos de odiá-los — pois isso seria um pecado. Deus ama a todos igualmente e, como se sabe, não há nada que possamos fazer para que Deus nos ame mais, assim como não existe nenhuma falha em nossa conduta que possa levar Deus a nos amar menos. Deus ama os homossexuais, como também ama todos os pecadores.
Alguns podem argumentar que é melhor um casal homoafetivo adotar uma criança do que deixá-la num orfanato. Essa tese tem raízes numa filosofia chamada utilitarismo, através da qual se defende que a melhor decisão é a que traz menos prejuízo, ou seja, a mais útil, sem levar em consideração quaisquer aspectos éticos, morais ou espirituais; o que assevera, em outras palavras, que os fins justificam os meios. A cosmovisão judaico-cristã, porém, não concorda com esse pensamento. O que é errado não deve ser admitido. Está escrito: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!” (Is 5.20).

I. DIREITO E FAMÍLIA
1. Conceito
Família traduz-se como um grupo social indispensável para o estabelecimento de uma civilização forte e duradoura (desde Aristóteles aprecia-se isso). A célula-mãe de todas as instituições sociais. A definição de família, à luz do direito, pode, entretanto, assumir várias conotações, dependendo da cultura e da época da sociedade que se analisa.
Contudo, independentemente da cultura ou mesmo dos aspectos históricos, há certa convergência em estabelecer que a família constitui-se, no grupo social composto, por pessoas ligadas pela consanguinidade, afinidade e/ou pela existência de vínculos matrimoniais.
Entre os hebreus, é certo garantir que a expressão família abrangia muito além de cônjuges e descendentes, pois incluía também os parentes por afinidade e os escravos (Gn -47.12), não obstante somente os filhos pudessem herdar. A exceção era para o caso de não haver filhos, quando a herança iria para o escravo mais antigo, nascido na casa (Gn 15.2-4).
Em Roma, por outro lado, havia três tipos distintos de agrupamentos familiares: a família nuclear (marido e mulher), a tríade (pai-mãe-filho) e a família ampliada (pais, filhos e agregados, de várias gerações, sob o comando do pater familias).
O surgimento do cristianismo, porém, transformou a ideia dos romanos sobre suas práticas matrimoniais, rompendo, em parte, com a tradição gentílica. Com a absorção paulatina da cosmovisão judaico--cristã, foi admitida a indissolubilidade do casamento e a monogamia, pelo menos no papel.
No Brasil, o Código Penal traz em seu artigo 235 a tipificação do crime de bigamia (contrair alguém, sendo casado, novo casamento: pena: de dois a seis anos de reclusão) e, até 1977, o divórcio não era admitido em nosso ordenamento jurídico — resquícios da legislação romana e da forte influência em nosso Código Civil das instituições do direito canônico.
2. Relevância jurídica e social
Exercendo a magistratura desde 1996, e especificamente designado para atuar em Vara de Família nos últimos cinco ou seis anos, tenho observado como são sensíveis as causas que envolvem direito de família. Examinar o tema família é tratar sobre vida. Nesses processos, não existem apenas dados objetivos: nomes, descrições minuciosas das vidas e rotinas dos litigantes, seus esforços e suas perdas, mas também seus sonhos e frustrações mais íntimas (razão pela qual, em regra, esses processos correm “em segredo de justiça”).
Cada ser humano possui uma vida complexa, independentemente do patrimônio amealhado e da quantidade dos membros da sua família. A vida de uma pessoa, ainda que seja a mais aparentemente insignificante, pode ser objeto de um extenso e enriquecedor livro ou filme. Toda história humana é rica, importante e cara, pois é o resultado de anos de esforço extenuante, acompanhados de sentimentos que são próprios, exclusivamente, dos seres humanos: amor, ódio, inveja, desilusão, etc. Não importa a nobreza ou não de cada uma das motivações, e sim o fato de que é a existência de um ser eterno, feito à semelhança de Deus, que está sendo discutida e tratada. Diante disso tudo, na maioria das vezes, os instantes mais decisivos de um processo judicial acontecem na sala de audiência, em um ambiente bastante emotivo. Lágrimas, desabafos, indignação, angústia são episódios frequentemente observados.
O cuidado com as questões familiares, deste modo, se apresenta como algo tão importante para a sociedade, que existe uma área do direito que se dedica exclusivamente a esse estudo — o Direito de Família. Nas grandes cidades do Brasil, por exemplo, como mencionado alhures, o Poder Judiciário destina juízes para julgarem apenas causas que envolvam essas questões (divórcio, pensão alimentícia, guarda de filhos, direito de visitas dos filhos, dentre outras), pois se reconhece a relevância da matéria para o bem-estar das pessoas e para o progresso e harmonia social. É a vida de todos nós que está em pauta. O assunto, portanto, é vital não apenas na seara espiritual, mas também em todos os aspectos da existência. Um tema precioso, sensível, urgente... sempre. Por conta disso, a Constituição da República Federativa do Brasil consagra, no Art. 226, caput, que “a família, a base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.

II. A FAMÍLIA DURANTE OS SÉCULOS
1. O padrão divino
No livro de Gênesis, Deus estabeleceu o padrão para a família. Está escrito: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24). E Jesus complementou: “Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem (Mc 10.9). A Família começa, portanto, com um homem e uma mulher, quando eles deixam a casa de seus pais e se unem para Formar um novo núcleo Familiar. Simples assim.
O preclaro escritor Elinaldo Renovato de Lima aduz que “o espírito do Anticristo tem dominado a mente do homem pós-moderno, a tal ponto de promover verdadeira subversão dos valores morais (...)”. E isso é a mais cristalina verdade. Vivemos numa época em que quebrar paradigmas aparece como algo salutar. Entretanto, embora algumas coisas devam, sem dúvida, ser mudadas na sociedade, qualquer variação que Fuja do padrão tradicional para a família é oriunda de um sentimento alheio a Deus e à sua palavra.
A poligamia, por exemplo, Foi tolerada por Deus em determinados períodos. No entanto, as Funestas consequências sof ridas por quem andou por esse caminho são vistas claramente na Bíblia (Gn 30.1,2; 1 Rs 11.3). Deus, igualmente, tolerou por algum tempo a geração pré-diluviana e as populações das cidades de Sodoma e Gomorra, esperando que elas se convertessem de sua impiedade. Porém, como permaneceram em práticas imorais, o Senhor trouxe o castigo sobre elas, para servir de exemplo (2 Pe 2.4-6).
No momento da semeadura, é possível escolher a semente. Todavia, quando chegar a hora da colheita — se houver sido semeado na carne (G1 6.8) — haverá horror para aqueles que caírem nas mãos do Deus vivo (Hb 10.31). Deus não tem o culpado por inocente.
O Fato é que o padrão santo de Deus para o casamento é que ele seja monogâmico (cada parceiro deve ter apenas um cônjuge), heterossexual (realizado entre homem e mulher), monossomático (os cônjuges devem se tornar em uma só carne) e indissolúvel (deve durar para sempre). Tudo que passar disso é de procedência maligna!
2. O homem como chefe da família
Na Bíblia, a cultura familiar era eminentemente patriarcal, ou seja, o pai era o chefe da família. Isso estava na raiz da prática social (Gn 3.16). Não se encontra, por outro lado, nenhuma referência bíblica de sociedade que fosse matriarcal. O pai, assim, no Antigo Testamento, tinha direitos de vida e morte sobre os membros da sua família (Dt 21.1 1-21). Por outro lado, o mais antigo ascendente paterno no clã familiar (avô, bisavô, etc.) detinha autoridade sobre toda a descendência (Gn 9.25,27; 27.27-40; 48.15,20; 49) e, caso houvesse desobediência, a morte poderia ser o castigo (Dt 21.18-21). Cabia, ainda, ao pai a instrução religiosa e secular dos membros da família (Êx 12.12,26-27; Dt 6.20-25). No Novo Testamento, este princípio se manteve. O pai continuou sendo o cabeça da família, e a esposa e os filhos deveriam ser submissos a ele.
3. Afetividade é suficiente?
Há, ainda, um novo padrão de família se estabelecendo: a união estável entre homem e mulher. O art. 1.723 do Código Civil Brasileiro diz que “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. Para simplificar, é quando os namorados passam a viver juntos, entretanto não se casam. Uma profunda mudança de comportamento ocorreu nessa área, conforme se visualiza na comparação feita entre os Censos Demográficos do IBGE dos anos de 2000 e 2010, quando se observou um aumento expressivo das uniões estáveis, as quais passaram de 28,6% para 36,4% do total das uniões, existindo, em contrapartida, uma consequente redução dos casamentos oficiais, com destaque para a modalidade civil e religiosa, que caiu de 49,4% em 2000 para 42,9% em 2010. Ou seja, as pessoas estão casando menos e convivendo juntas com maior intensidade, alterando um padrão histórico. Nisso, há uma importante questão de natureza espiritual. Pergunta-se: O casal em união estável tem a bênção de Deus? A afetividade é suficiente para a formação de um núcleo familiar? Homem e mulher podem se unir para construir uma nova família, independentemente do casamento? Dizem os críticos do casamento: "O casamento é só um pedaço de papel. Para quê casar?” A resposta: É verdade! O casamento é um pedaço de papel, assim como a escritura de um imóvel, o documento de um carro e o dinheiro também se resumem num papel, porém não se vê ninguém desprezando tais documentos. O casamento é um pedaço de papel que chancela o momento da aliança entre Deus e a nova família que desabrocha, devendo, por isso, ser amado e respeitado. Trata-se de um documento que estabelece um novo status social aos nubentes, que cria direitos e deveres, que faz com que, aos olhos de Deus, não sejam vistas mais duas pessoas, mas apenas uma. A Bíblia diz: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará” (Hb 13.4).

III. A MONOGAMIA COMO MODELO BÍBLICO
1. No Antigo Testamento
Os homens que andaram com Deus tiveram, em regra, relacionamentos monogâmicos. Aliás, a poligamia não era comum nos tempos bíblicos. As exceções resumem-se, quase que exclusivamente, a Jacó (por contingências culturais contrárias à sua vontade), Davi e Salomão (por causa de alianças políticas). Adão, Sete, Enoque, Noé, Isaque, os filhos de Jacó, Moisés, Arão, Josué, Samuel, Jó, Ezequiel, Oséias, dentre muitos outros, tiveram casamentos monogâmicos. No caso de Abraão, a opção de coabitar com Agar foi de sua mulher, atendendo a um costume antigo. Porém, quando Sara pediu a ele que despedisse a escrava egípcia e Ismael, Abraão os mandou embora sem nenhuma herança. Assim, a rigor, tecnicamente, Abraão não foi bígamo. Por fim, quando ele casou-se com Quetura, sua segunda esposa, Sara já havia falecido.
2. No Novo Testamento
No tempo de Cristo, a família judaica era, de igual forma, predominantemente monogâmica. Em Mt 19.3, Jesus foi questionado pelos fariseus sobre a dissolução de um casamento monogâmico; em Mt 22.23-28, por outro lado, os saduceus questionaram o Messias sobre um problema teológico em relação à lei do levirato (Gn 38.7-11), também sob o enfoque da monogamia, circunstância que se repetiu no diálogo travado entre o Senhor e uma samaritana, em que Ele informou à mulher sobre o erro de ter, ao longo da vida, vários parceiros sexuais (Jo 4.17,18); a questão de fundo tratada, portanto, dizia respeito à importância, diante de Deus, do casamento entre um homem e uma mulher.
3. Atualidade nacional
No Brasil, o Código Civil de 1916 apresentava o marido como o chefe da família, sendo a esposa e os filhos hierarquicamente inferiores, devendo obediência ao primeiro; já os filhos ilegítimos (adulterinos e incestuosos) não eram considerados herdeiros. O casamento era indissolúvel. O divórcio veio a ser permitido apenas em 1977. Com a Constituição Federal de 1988, a família, legalmente, perdeu o modelo patriarcal, ao deixar isonômicos os direitos do marido e da mulher na sociedade conjugal, colocando fim a uma longa história de discriminações com relação à filiação, tanto de natureza pessoal como hereditária. Diante de recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, está sendo admitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, inclusive, a adoção de crianças por casais homoafetivos. Isso é lamentável. O pastor norte-americano John MacArthur, logo após a Suprema Corte daquele país autorizar o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, publicou uma carta aberta, afirmando que a aprovação do casamento gay não alteraria o conceito de Deus sobre o que é uma família, constituída inexoravelmente a partir do casamento monogâmico heterossexual. Suas palavras consubstanciam uma irretorquível verdade, que incomoda uma geração que enxerga os fatos pelas lentes da cosmovisão naturalista, não aceitando, por conseguinte, o conselho de Deus expresso na Bíblia sobre como deve ser o viver em sociedade.



Autor: Reynaldo Odilo

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