O livro de Isaías, por sua
amplitude, insere-se no quadro das peças fundamentais da literatura profética,
oferecendo um valioso conteúdo histórico-teológico que nos permite fazer uma
tríplice aplicação, ao mesmo tempo em que exige de nós um posicionamento a
respeito da relação com Deus, com o próximo e com a natureza que nos circunda.
Essa tríplice aplicação baseia-se no seguinte:
a) Apesar de não ser um livro
histórico propriamente dito, permite-nos conhecer, de maneira simplificada, uma
parte da história dos Israelitas com Deus e com outros povos. O texto fala
resumidamente do contexto religioso, histórico, político e social. Nessa breve
história, o livro nos possibilita enxergar a graça, a misericórdia, a justiça e
a soberania de Deus, que se traduz no amor de Deus por Israel e/ou pela
humanidade como um todo.
b) Apesar de nos remeter a um
período muito antigo (do séc. VIII ao séc. IV a.C.), a voz de Isaías ecoa de
modo significativo nos ouvidos da igreja de hoje. Ele direciona a nossa atenção
para nossa história do dia a dia, chamando-nos a repensar nossa prática cristã
não só dentro das igrejas ou comunidades a que pertencemos, mas também a irmos
além, a entender que Deus nos chama para fora, para o mundo, para proclamar o
Reino dentro de nossas teias sociais, para apontar que existe um Deus soberano
em meio à pluralidade religiosa e proclamar justiça num mundo onde a injustiça
é o que dita as normas.
c) Por ser também um livro de
caráter apocalíptico, ao lê-lo, somos levados a viajar no tempo e perceber que
tudo ao nosso redor é refém da finitude. Por mais magnífico e importante que
seja, tudo algum dia deixará de existir, se tomará pó; tal como houve um
começo, também haverá um fim. Sob esse olhar apocalíptico, alguns
questionamentos sobre o fim nos são impostos. Nesse quesito e sob esse ponto de
vista se desenvolve esse capítulo de Isaías, oferecendo-nos algumas respostas
que veremos mais adiante.
Os capítulos 24 a 27 compõem uma
parte do chamado “apocalipse de Isaías”. Tal como Daniel e Apocalipse, essa
seção de Isaías não é fácil de ser compreendida por conta do gênero literário
apocalíptico que a constitui. O gênero apocalíptico é “uma narrativa na qual
uma visão reveladora é concedida a um ser humano, na maioria das vezes por meio
da intervenção [...] sobrenatural ou acima da realidade humana”. Essa narrativa
geralmente termina com o anúncio do julgamento divino ou com uma mensagem de
esperança de um mundo melhor, no qual o mal não existe.
Os textos apocalípticos comumente
são marcados por sofrimentos, perseguições, domínio de um povo sobre o outro,
extrema decadência moral, um forte descaso religioso ou apostasia (abandono das
ordenanças divinas que tem, como consequência, o sofrimento do povo). Geralmente,
o profeta dirige-se “àqueles que vivem em tempos de perseguição e sofrimento
desesperado que chega a ser visto como a corporificação do mal supremo”.
Às vezes, confunde-se o
apocaliptismo ou apocalipcismo com a escatologia (tradicionalmente definida como
o estudo das últimas coisas). Por serem tão próximos e, de certa forma, andarem
entrelaçados, a razão dessa confusão é, de certa forma, coerente, porque o que
as difere é extremamente tênue. Pode-se pensar que um (o apocalipse) está
contido na outra (escatologia). Enquanto o gênero apocalíptico em meio aos
sofrimentos do povo propõe-se a revelar a promessa de livramento por meio da
intervenção divina, a escatologia se propõe a mostrar uma nova era após esse
livramento. Por isso, vale voltar maior atenção ao apocalipcismo, que é o
gênero literário que dá embasamento aos capítulos desta seção.
Apesar de esses capítulos serem
conhecidos como uma parte do “apocalipse de Isaías”, eles não são compostos
unicamente do gênero apocalíptico; eles reúnem “profecias, cânticos e orações.
Cada um desses gêneros tem sua própria força e sua combinação que fazem do
texto uma sinfonia querigmática” muito mais valiosa porque o profeta é usado
por Deus para se referir ao julgamento de Deus para com Judá, mas também se
refere ao fim dos tempos apocalípticos e escatológicos. Portanto, trata-se de
uma profecia que vai muito além dos dias subsequentes a Isaías. É sob essa
hermenêutica dupla que este capítulo se desenvolverá.
I - O JULGAMENTO E A SALVAÇÃO
Isaías faz anúncio da destruição
de Tiro por causa do mal que os seus habitantes praticavam, por serem
arrogantes e por se exaltarem em relações a outros povos (Is 23.8-9). O profeta
anuncia que o mesmo sucederá com todos os povos da terra por causa da maldade
que fizeram e “da desaprovação de Deus em relação a esse mal.” O capítulo 24
pode ser visto como o capítulo da proclamação dos castigos, dos anúncios da
devastação e do preparo do povo para o sofrimento que vai assolar a terra; tal
como em Génesis (Gn 6.11-13), onde Deus anuncia à Noé a destruição da terra com
o Dilúvio por causa da maldade do ser humano que havia se multiplicado sobre a
terra. A terra, nesse trecho, não é a terra como um todo. O texto faz menção de
Israel que era o Reino do Norte e de Judá que era o Reino do Sul. Porém, num
contexto futuro, aplica-se também a toda a terra.
1. Causas do julgamento divino
O povo que é conhecido como povo
de Deus estava vivendo em grande desobediência. Num período em que os seus reis
eram dados à idolatria, estabeleciam alianças com outros povos sem o
consentimento de Deus e não davam ouvidos a orientações que Deus lhes dava por
meio dos seus servos, os profetas, como nos mostra o capítulo 7 de Isaías.
Viviam também um período de grande sincretismo por conta das alianças ou mistura
com outros povos. Deus, sendo plenamente justo e zeloso nas suas ordenanças, dá
a conhecer ao povo que, por conta de todas essas práticas, eles serão
devastados e dispersados, serão levados a servir como escravos em outras
terras, serão subjugados pelos assírios (Reino do Norte) e pelos babilónios
(Reino do Sul).
O profeta Isaías ensina que a
relação entre Deus e a humanidade não se estabelece pela via de favoritismos.
Não existem os privilegiados de Deus, no que diz respeito ao juízo. Para Ele,
existem apenas seres humanos que, de acordo com a tradição cristã, são
divididos entre criaturas (toda a raça humana) e filhos (os que, além de serem
criaturas, receberam Cristo como senhor e salvador conforme João 1.12). “As
distinções sociais não fornecem nenhum escape do juízo divino”. Por isso, o
profeta afirma: “E o que suceder ao povo sucederá ao sacerdote; ao servo, como
ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao
que empresta, como ao que toma emprestado [...]” (Is 24.2).
A corrupção havia se expandido por
todas as camadas sociais. As distinções sociais diante de Deus tomam-se
irrelevantes. Ninguém é melhor que o outro por conta da sua posição social ou
cargo religioso. No juízo divino, as riquezas e o poder não fazem diferença,
não tomam ninguém mais ou menos humano, não fazem de ninguém pessoas boas ou
más. Por isso, Deus julga todos com a mesma medida, e cada um pagará conforme
os seus atos.
Como cristãos, entendemos que as
ordenanças e os juízos de Deus são verdadeiros e imutáveis. Em Deus, não há
contradição, não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17). Por isso, Isaías
(24.3) afirma claramente que a destruição da terra era iminente e certeira
porque foi Deus quem falou. Ao dizer que a destruição seria verdadeira, ele
queria chamar a atenção de um povo para o qual os desígnios não eram tão
relevantes, um povo que praticamente havia escolhido viver uma vida longe da
presença de Deus.
Interessante notar que, apesar do
grande desinteresse pelas questões religiosas, num momento em que as
orientações divinas não eram tomadas como relevantes (como neste caso), Isaías
escolheu ir por um caminho diferente, falar o que o povo não gostaria de ouvir,
pois, tal como nós, ninguém gostaria de receber um aviso de que haveria de ser destemido.
Isaías, porém, em obediência a Deus, age assim.
Podemos tentar imaginar o estado
de ânimo do povo. A maioria, talvez, por desconsiderar as palavras que estavam
sendo proferidas, continuava vivendo as suas vidas sem preocupação nenhuma.
Outros, por entenderem que essas palavras eram verdadeiras, possivelmente
estavam afoitos e desanimados. Talvez olhassem um para o outro e perguntassem:
“O que faremos?”, “O que será de nós?”, “O que será de nossos bens?”, “O que
faremos com nossas fazendas, nossos carros, nossos animais, nossos plantios?”.
Outros, talvez, que houvessem acumulado tantas riquezas, perguntassem: “E
agora? De que me servirá tudo isso se o fim é iminente?”. A Bíblia afirma que a
terra estava murcha, sem forças (Is 24.4).
Aqueles que eram príncipes e
nobres, que se autopromoviam, achando-se melhores que outros eram acometidos de
tristeza e chegavam a adoecer as suas almas, porque percebiam que não tinham
como fugir das mãos do Altíssimo. Podemos perceber que a descrição ultrapassa
qualquer coisa que jamais aconteceu. Fazendo uma similaridade com o livro de
Apocalipse, somos levados a apontar para o temível futuro do mundo, uma
previsão do que sucederá antes do Reino de Deus ser plenamente estabelecido.
Deus, sendo um justo juiz, ao
estabelecer o seu juízo, mostra as razões pelas quais somos e seremos julgados,
pois Ele não é um Deus sádico, não castiga a humanidade por prazer. Ele o faz
pedagogicamente. Por isso, o texto faz menção de que o povo será castigado por
transgressão aos estatutos, por violação das leis e por quebra das alianças
perpétuas. Esse castigo pode ser comparado a um retomo ao caos, onde desvanece
a alegria; assim, o vinho, símbolo da alegria, está em falta, as vinhas
murcharam, não há sons de alegria, o povo não tem mais razões para festejar, o
prazer já não se faz presente na cidade. Tudo o que havia de bom, que servia de
estímulos para a vida, que gerava esperança foi desolado, conforme a profecia
predisse.
2. Como será o julgamento
A desolação da terra, segundo o
profeta, tomar-se-á dramática e completamente assustadora. O terror assolaria
os moradores da terra e não haveria como escapar, pois quem tentar escapar do
terror cairá na cova, e quem tentar escapar da cova cairá no laço (Is 24.18).
Não há quem fuja do castigo de Deus. Ninguém consegue se esconder da sua face.
Sua onisciência se sobrepõe a toda e qualquer artimanha do ser humano. Todo
esforço empreendido para escapar das mãos de Deus, por mais engenhoso que seja,
é completamente falho e insignificante e será reduzido a nada. Até os
fundamentos da terra tremem. Fendas e rachaduras transformam a terra em
pedaços. A Lua e o Sol também são sujeitos à destruição por causa da tamanha
corrupção do povo. Isso mais uma vez toma evidente que nada está isento da
desolação.
Diante das palavras tão vivas do
profeta Isaías, o povo vê-se completamente entregue à destruição. Vê também que
não há como justificar-se diante de Deus, pois seu juízo é reto. Em tal caso,
restou ao povo a possibilidade de tomar consciência de seus maus atos, assumir
a responsabilidade e buscar o caminho da esperança, encontrar um escape em meio
ao caos que se havia instaurado, tentar achar o caminho do perdão, porque,
apesar de Deus ser justo, também é perdoador, e o salmista diz: “[...] a um
coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (SI 51.17b). É isso que
também se destaca no texto, um cântico de louvor como expressão de clamor por
misericórdia.
A palavra julgamento no grego (krinein)
quer dizer separar (Mt 13.24-30), ou seja, será a separação do bem e do mal
daquilo que é verdadeiro do que é falso. Será o ato final de Deus, tanto na
história de Israel quanto nos dias futuros, onde se preservará apenas aquilo
que não foi contaminado pela maldade e pelo pecado. Esse período de julgamento
se refere ao Juízo Final, na consumação de todas as coisas, quando todos os
povos e nações comparecerão diante do trono de Deus para serem julgados por
seus atos (Mt 25.31-33). O início do Juízo Final acontecerá logo após o
Milénio, os mil anos de paz do governo mundial em que Cristo será o Rei e
Satanás ficará preso. Porém, Satanás será solto logo após o fim do Milénio até
ser julgado. Assim, o Juízo Final servirá para destruir a personificação do mal
(Mt 25.41), conforme escrito no Apocalipse: “E o diabo, que os enganava, foi
lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de
dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10).
3. O Destino dos maus
Para o Juízo Final, acontecerá a
ressurreição dos maus de todos os tempos (Ap 20.5); os salvos já terão
ressuscitado para estarem no Milénio com Cristo (Is 26.19; Ap 20.4). Ninguém
escapará da desolação e do julgamento que sobrevirá, sejam ricos, pobres,
sacerdotes, leigos (Is 24.2) e reis (Is 24.21). A terra, outrora abençoada,
agora é maldita por causa da injustiça (Is 24.5) e será abalada, provavelmente
num grande terremoto (Is 24.18-20), e o Sol e a Lua deixarão de brilhar (Is
24.23; Lc 21.25). Deus destruirá todo o mal, bem como todos os grandes poderes
e impérios mundiais representados pelo leviatã, pela serpente sinuosa e pelo
dragão (Is 27.1). Aqueles que forem julgados como maus serão separados
definitivamente de Deus, a fonte da vida. Serão, juntamente com o Diabo e seus
anjos, lançados no lago de fogo que arderá eternamente. Jesus disse que ali
haverá choro e ranger de dentes (Mt 13.50), ou seja, um sofrimento
intermitente, ilimitado e eterno.
4. O Destino dos bons
Aqueles que forem julgados como
bons e forem justificados pelo sacrifício de Cristo serão levados para o Reino
eterno, conforme Jesus mesmo afirmou:
“Então, dirá o Rei aos que
estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me
de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes
ver-me” (Mt 25.34-36).
O Reino de Deus será um eterno
desfrutar de alegrias, delícias e bem--estar, na presença de todos os salvos de
todos os tempos. Todavia, o mais importante é que para sempre estaremos com
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua
glória e majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol
nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado,
e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).
II - CRISTO, O CENTRO
DA HISTÓRIA
A Bíblia afirma que “nele foram
criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis,
sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi
criado por ele e para ele” (Cl 1.16). Portanto, toda a história da humanidade
tem Cristo como seu precursor (Jo 1.1; Ap 13.8b), seu executor (Mt 28.18; Cl
1.17) e o seu fim (Fp 3.21). A criação, a redenção da raça humana e o futuro
estão nas mãos dEle. Assim, Cristo é o centro da história humana, e qualquer
ser humano somente se realiza plenamente nEle, pois Ele é o centro da história
da salvação como seu executor, proclamador e mediador, permitindo a
reconciliação com Deus através de sua morte na cruz.
1. O Início da história humana
Cristo esteve presente no início
da criação de todas as coisas, nos tempos eternos com o Pai. Assim, a história
da humanidade pode ser tematizada em: criação, queda, redenção em Cristo e
final dos tempos com Cristo. Isso porque Ele é o que permeia a história humana
com sua presença. Ele é o centro da história porque o povo escolhido entre a
humanidade, Israel, não foi fiel à aliança feita com Deus e, com isso, um
remanescente (a semente, o tronco) restante, que se concentra em Cristo na sua
morte e ressurreição, tomou-se precursor de um grande povo composto por todas
as tribos e nações, que confessam a Cristo como salvador.
2. A Redenção da história humana
O profeta Isaías, além de prever
destruição, traz paradoxalmente um olhar de esperança, prevendo que o povo
encontraria novo sentido de vida e renasceria, e aqueles que não tinham ânimo
nenhum encontrariam possibilidades de experimentar o outro lado da face de
Deus, sua face bondosa e misericordiosa.
As pessoas que verdadeiramente
creem que Deus vai agir e realizar os seus propósitos na história, como o
profeta nesse caso, podem, de modo antecipado, celebrar os feitos de Deus em
suas vidas pelos olhos da fé, pois o inimigo do povo de Deus já foi arruinado e
derrotado. No texto, o inimigo do povo são os assírios, pois estes oprimiam o
povo de Deus e os subjugavam à escravidão. Por isso, aqui eles são descritos
como pobres e necessitados; e os opressores são descritos como os estrangeiros.
O povo, na voz de Isaías, expressa cânticos de louvor e adoração a Deus, na
esperança de que este cativeiro não é eterno, pois Deus lhes enviaria um
Libertador.
Da mesma forma que Deus
providenciaria um escape para Israel, toda a história da salvação está
virtualmente contida num único evento: no fato de que todo o passado da
história da salvação tende para essa intervenção de Cristo na história através
da cruz. Dela brota todo o presente e representa a garantia de todo o futuro da
redenção. Entre a cruz de Cristo e a consumação final da história, dá-se a
tensão e a hostilidade entre a instalação de seu Reino na terra “já-agora” e no
“ainda não” do Reino que está por vir. A batalha decisiva e vitoriosa já foi
travada na cruz do Calvário. Nesse momento, vive-se em hostilidade com o
adversário, Satanás, que quer tentar destruir a obra redentora em nós, embora
já tenha sido vencido. Estamos apenas aguardando o dia da vitória final em que
se dará o arrebatamento da Igreja, que desencadeará o final da história humana.
3. Ele é para todo o sempre
Ele é antes do início, foi
crucificado ontem, reina agora de forma invisível e voltará no fim dos séculos
para estabelecer seu Reino eterno, onde a justiça e a paz reinarão
perpetuamente. Algumas vezes, o fim dos tempos é entendido como um tempo
caótico e terrível. Para alguns, poderá ser mesmo. Já para os que forem do
Senhor, será um tempo em que as qualidades humanas serão potencializadas e
nossa fidelidade ao Senhor não sofrerá mais os percalços que temos hoje, pois
Ele mesmo vai destruir toda infidelidade (Is 5.1-6), numa revelação completa da
bondade e da grandeza de Deus, tirando a cegueira que nos impedia de enxergá-lo
(Is 25.7).
III - O FIM DA HISTÓRIA
O Fim da História, em termos
seculares, foi iniciada por Friedrich Hegel (1770-1831) que ensinava que,
quando a humanidade alcançasse um ponto de equilíbrio com a ascensão do
liberalismo e da igualdade, a história chegaria ao fim. Essa ideia foi retomada
em tempos modernos por Francis Fukuyama, o qual defendia que, com o avanço do
Capitalismo e o fim de regimes fascistas e do Comunismo, anunciava-se o Fim da
História. A evolução económica, a democracia e a igualdade de oportunidades
levariam todos a atingirem seus objetivos de vida, e a sociedade supriria todas
as necessidades humanas. Portanto, não seria o fim cronológico da história, mas
o fim de governos e regimes que não conseguem suprir as necessidades humanas ou
que estão em desacordo com os valores ocidentais. E óbvio que a humanidade está
longe desse ideal, porque tal ideal somente será atingível no governo ou no
Reino de Cristo.
Quando se fala em consumação da
história, fala-se do fim dela; e fim significa término e também alvo, ou seja,
os filhos de Deus se esforçam (Mt 11.12) para atualmente estabelecerem seu
Reino na terra (alvo). Porém, esse esforço só terá fim quando os céus e a terra
passarem (2 Pe 3.10). Entretanto, o seu Reino será concretizado em plenitude
somente no fim dos tempos, no término da história humana.
1. O Fim do sofrimento para o povo israelita
E interessante notar o paralelismo
que há entre Is 25.8 e Ap 21.4. Após um período de grande sofrimento, de dor
profunda e de grande desespero, Jerusalém, simbolizada pelo “monte Sião” em
Isaías, entra em cena. Em Jerusalém, de acordo com Isaías, será feito um grande
banquete com uma grande quantidade de comida e de vinhos magníficos. Porém, a
similaridade toma-se mais evidente quando o profeta anuncia que Deus enxugará
as lágrimas de todos os rostos e aniquilará a morte do meio do seu povo. A
derrota final da morte simboliza salvação definitiva do povo de Deus. Esse
paralelismo entre os dois textos corrobora a ideia de que essa seção faz parte
dos textos que constituem o “apocalipse de Isaías”. Em sua profecia, Isaías tem
em mente o cativeiro babilónico, pelo qual Judá haveria de ser subjugada. Num
primeiro momento, Isaías é usado por Deus sob uma perspectiva pastoral, no
sentido de oferecer consolo ao povo. Nos capítulos anteriores, o trabalho do
profeta está mais voltado para anunciar o juízo divino ou a destruição do povo.
Agora, em meio às dores do cativeiro, o profeta preocupa-se em restaurar a
confiança do povo na proteção divina. “Em nenhum outro lugar, as Escrituras
apresentam um exemplo melhor de consolo para dias difíceis” do que nesta
profecia de Isaías.
O povo, outrora desprezado e
oprimido, é chamado a confiar em Deus, pois Ele é quem humilha os altivos,
referindo-se aos inimigos. Ao responderem a esse chamado, eles desfrutariam da
perfeita paz, que é a dádiva dEle de bem-estar e completude, pois, em meio à
situação em que o povo se encontraria, receber o anúncio de uma vida de paz é
muito mais satisfatório do que qualquer outra coisa. Esse chamado a uma
confiança perpétua tem sua lógica fundamentada na fidelidade de Deus, pois Ele
nunca abandonou o seu povo. A ida deles ao cativeiro foi por conta da permissão
de Deus, como um bom Pai que cria meios ou possibilidades de redirecionar o seu
povo para a proposta de vida que Ele oferece.
Depois de o povo ter experimentado
o juízo divino, o lado de Deus que nenhum ser humano gostaria de experimentar,
chegaria o momento em que a ira de Deus contra os israelitas abrandaria. A ira
de Deus não estaria mais contra os israelitas, que são simbolizados pela “vinha
frutífera” ou “vinha aprazível”. Ou seja, Deus estaria mostrando seu agrado
para com eles; porém, se o seu povo voltar a quebrar os estatutos e quebrar a
aliança perpétua, que são simbolizados no texto pela erva daninha e por
espinhos, então Deus os pisoteará e os destruirá por completo.
2. A História humana terá fim, a de Deus não
Deus está acima da história. Ele é
um ser a-histórico, pois é eterno, porém seu Reino se estabelece na história
humana. Por isso, tem início, mas nunca terá fim. No tempo determinado por
Deus, a história humana e a vida na terra deixarão de existir e serão tomados
pelos novos céus e pela nova terra (2 Pe 3.10-13). Entretanto, esse não será o
fim da história daqueles que forem salvos, mas será a entrada destes na
eternidade, a transição daquilo que é temporal para o que é eterno, a qual
Jesus chamou de “vida eterna” (Jo 5.24). Na consumação da história, aquilo que
é temporal terá o seu fim, será sugado pela eternidade como desnecessário;
inclusive a Lei e a moralidade não precisarão mais existir. Viver-se-á o amor
perfeito, que é o cumprimento da Lei, pois o amor cumpre a Lei antes que ela o
exija, apontando para o caráter temporal e necessário da Lei enquanto
estivermos na terra.
No Apocalipse de João, está
escrito que não haverá templo na Jerusalém celestial, porque Deus habita nela;
isso aponta para o fim da religião, pois esta nada mais é que a tentativa de se
chegar (religare)
a Deus, sendo totalmente desnecessária no estado perfeito da Vida Eterna em que
Deus é tudo em todos.
3. A Nova Jerusalém é o início da nova história humana
O exílio ou cativeiro não está
distante de nós. Ele pode ser traduzido em coisas simples que nos aprisionam e
nos impedem de viver uma vida em que a dignidade humana é respeitada, uma vida
onde há relações saudáveis com Deus, com o próximo e com a natureza, pois esse
é o plano de Deus para o mundo. Assim sendo, é necessário que aconteça a
consumação da história e que o Reino de Deus se estabeleça definitivamente.
Esse Reino aponta para a nova Jerusalém, o lugar que Deus preparou para os
salvos em Cristo, para passarem com Ele por toda a eternidade, na casa do Pai
(Jo 14.1-4), desfrutando eternamente de seu amor. Ela será de uma beleza, de
uma majestade e de uma glória indescritível (Ap 21.9-15). Mas a melhor coisa
não é a magnífica cidade, e sim quem estará nela: nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. Ansiemos por esse tempo.
Autor:
Claiton Ivan Pommerening
Exelente conteúdo, parabéns ao autor e ao site pelos textos e lições!
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