Introdução
Isaías descreve uma época em que
“se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os
coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará” (Is 35.5,6, ARA). O
profeta, ao realçar o amor inclusivo de Deus, mostra que nem mesmo as pessoas
com deficiência mental terão dificuldades em atinar com o caminho divino: “E
ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo não
passará por ele, pois será somente para o seu povo; quem quer que por ele
caminhe não errará, nem mesmo o louco” (Is 35.8, ARA).
Ainda que a visão do profeta seja
sobre o Milénio, a cura e o refrigério físico, mental e espiritual podem ser
experimentados, hoje, por todo aquele que vem a Cristo. A profecia revela o
interesse de Deus por todas as pessoas, inclusive pelas que trazem deficiências
e limitações.
O amor de Deus é inclusivo. Ele
não admite que ninguém fique de fora, mas “quer que todos os homens se salvem e
venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). A evangelização que não inclui
as pessoas com deficiência é incompleta e não expressa plenamente o amor de
Deus.
Neste capítulo, fui buscar a
assessoria de minha filha, a professora Karen Bandeira, que estudou com carinho
a educação inclusiva, a fim de adaptá-la à evangelização das pessoas com
deficiência.
I. PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS TAMBÉM CARECEM DA SALVAÇÃO
A inclusão de pessoas com
deficiência não deve ser vista apenas como política pública, mas como a maior
expressão do amor de Deus. Porque o Pai Celeste, amando-nos como nos ama,
enviou o seu Filho ao mundo, para que todos viéssemos experimentar a salvação
em sua plenitude. Iniciaremos este tópico, buscando uma definição que descreva
corretamente a pessoa com deficiência.
1. Definição. Pessoa com deficiência é a que se acha privada quer de
seus sentidos, quer de seus movimentos, ou do pleno uso de suas faculdades
mentais. Nessa definição acham-se os cegos, mudos, surdos, paraplégicos e
tetraplégicos, os autistas e os que têm a síndrome de Down. Deveríamos incluir,
também, os que se encontram acometidos pela doença de Alzheimer. Aliás, com o
envelhecimento da população, cresce o número de idosos que, mais cedo ou mais
tarde, poderão apresentar algum tipo de deficiência. Por isso, estejamos
atentos aos anciãos, entre os quais faremos preciosas colheitas para a Seara do
Mestre.
Segundo a Organização Mundial de
Saúde, “deficiência é o termo usado para definir a ausência ou a disfunção de
uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica”.
2. Nem inaptos nem desculpáveis. No que tange à salvação das
pessoas com deficiências, ou limitações, há pelo menos dois posicionamentos
errados. O primeiro é o que não as contempla como alvo do evangelho e aptas a
servirem a Deus. Simplesmente não se ocupa delas e não as incluem nos projetos
evangelísticos. O segundo é o que as vê como desculpáveis e já santificadas
pelo sofrimento.
No passado, certos enfermos
suscitavam compaixão e chegavam a ser chamados de “santinhos”. E, para
reverenciá-los, algumas pessoas tocavam-nos como se deles pudessem receber
alguma virtude. Enganosamente, muitos veem como não condenáveis os indivíduos
com deficiências, ou limitações, como se a entrada no céu lhes fosse franqueada
em compensação das dificuldades enfrentadas na vida terrena.
Mas a Palavra de Deus é clara:
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Com ou
sem deficiências, todos nascemos pecadores e estamos “debaixo do pecado, como
está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não
há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram
inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.1012). Infelizmente,
achar que os indivíduos mental ou fisicamente limitados não carregam, em si, a
natureza de Adão é mais cômodo, porque libera a igreja da tarefa de
evangelizá-los e integrá-los espiritual e socialmente ao corpo de Cristo.
Eis, portanto, um desafio que
enfrentaremos com amor e prontidão. Sei que a tarefa não é fácil, pois a
evangelização das pessoas com deficiência requer esforços concentrados e
específicos. No entanto, temos de falar de Cristo aos que não ouvem, mostrar as
belezas da vida cristã aos que não veem, apontar o caminho da salvação aos que
não conseguem andar e discorrer sobre a razão da nossa fé aos que não logram
pensar com clareza. Esta é a nossa missão: tornar o evangelho acessível a
todos, inclusive aos que trazem alguma deficiência. Ajamos, pois, como seus
olhos, ouvidos, boca e pernas, pois assim agiu o Senhor Jesus em seu ministério
terreno.
3. Carentes e ao alcance da graça. A verdade é que todos precisam
ser alcançados pelas Boas-Novas: os que enxergam bem, os que veem pouco e os
que nada veem; os que escutam e falam, os que não ouvem nem falam; os que
aprendem rápido e os que precisam de mais tempo para aprender; os que caminham
com as próprias pernas e os que usam cadeiras de rodas, próteses ou muletas; os
autistas, aqueles com síndrome de Down, com dislexia, com Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade, com paralisia cerebral, epilepsia... Todos devem
ser conscientizados de sua situação perante Deus, por causa do pecado, e saber
que podem ser “justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há
em Cristo Jesus” (Rm 3.24).
Nesse sentido, cabe-nos uma
reflexão. Se o governo, com suas políticas ineficazes e, às vezes,
fundamentadas em ideologias contrárias ao cristianismo, busca integrar as
pessoas com deficiência à sociedade, por que deixaríamos nós, a Igreja de
Cristo, de cumprir nossa obrigação? Além do mais, o Senhor Jesus adverte-nos
seriamente a respeito de nossa inércia evangelística: “Porque vos digo que, se
a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais
entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20, ARA). O que isso significa? Antes de
tudo, que devemos fazer um trabalho de comprovada excelência; um trabalho que
venha a exceder, em muito, ao que o Estado diz realizar.
II. A TAREFA DA
IGREJA
A tarefa de trazer os deficientes
a Jesus cabe a mim e a você. Por meio de uma didática apropriada, podemos
incluir os deficientes no Plano da Salvação, ensinando-lhes a Palavra de Deus.
Somente assim, poderão eles vir a superar todos os seus limites espirituais,
emocionais e sociais.
1. A singularidade e a preciosidade de cada indivíduo. A triste
verdade é que as igrejas dão-se por satisfeitas em poder atender a maioria das
pessoas, quando Jesus quer que todas sejam incluídas. Ele não veio para a
maioria, mas para “toda a criatura”, para “todo aquele que nele crê” e para
“todo aquele que invocar o nome do Senhor” (Mc 16.15; Jo 3.16; Rm 10.13). Mas
“como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem
pregue?” (Rm 10.14). Ainda que em nossa comunidade haja apenas uma única pessoa
que demande atenção especial, é bíblico que façamos o necessário para acolhê-la
e discipulá-la.
Nas parábolas de Lucas 15, ao
mostrar a preocupação do pastor por uma única ovelha desgarrada, o desvelo da
mulher por uma única moeda perdida e a solicitude do pai por um filho distante,
o Senhor destacou a unicidade e a preciosidade de cada indivíduo ao coração de
Deus. A Igreja deve ter essa mesma visão e não se contentar enquanto lá fora
houver uma alma perdida. E se essa alma for alguém com uma deficiência que
demande investimento humano e financeiro, a Igreja não deverá encolher-se no
pensamento mesquinho de que só valeria a pena se fosse um grupo inteiro.
Alguém, ao discorrer sobre a graça
divina, afirmou que, se todas as pessoas do mundo fossem justas, com exceção de
apenas uma, Jesus Cristo ainda assim desceria do céu, para morrer por essa
única pessoa. Porque Deus não nos ama apenas coletivamente. Ele nos ama também
individual e particularmente. Portanto, ninguém ficará de fora de nossas
atividades evangelísticas, principalmente os que não podem ver, ouvir, falar,
locomover-se ou atinar com a razão.
2. Tempo determinado e paciência. Um dos argumentos daqueles que
são contrários à inclusão de pessoas com deficiência, principalmente nas
escolas, é que a presença delas retardaria o aprendizado das outras. No
entanto, a experiência tem mostrado que, quando se procura fazer a inclusão,
todos aprendem, cada um dentro do seu tempo, e conforme a sua capacidade.
Mesmo numa classe de Escola
Dominical, frequentada por alunos sem qualquer deficiência, nem todos
conseguirão memorizar o nome das doze tribos de Israel, ou dizer com perfeição
a sequência dos livros da Bíblia. Alguns adultos nem conseguirão discorrer
acerca dos atributos de Deus. No entanto, todos poderão vir a crer, se bem
evangelizados e discipulados, que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Infere-se,
pois, que o evangelho exige e comporta a inclusão de todos, pois o Espírito
Santo trabalha, em cada coração, as verdades que nos conduzem à salvação.
Na igreja, acolher e incluir
pessoas com deficiência não significa criar um espaço separado para que, ali,
elas aprendam a Bíblia. Assim como todas as ovelhas ficam dentro do aprisco
para serem cuidadas pelo pastor, a pessoa com deficiência deverá ser ensinada
junto aos demais crentes e, juntamente com eles, tomar parte no culto de
adoração. A inclusão de pessoas com deficiência faz parte da comunhão perfeita
entre os membros do corpo de Cristo.
III. MUDAR PARA
RECEBER
Para ser inclusiva, a igreja deve:
a) possibilitar o acesso de pessoas com deficiência ao templo e facilitar o
trânsito por suas dependências, como salas de Escola Dominical, banheiros e
cantina; e b) apresentar a mensagem evangelística levando em conta as limitações
da audiência e os diferentes estilos de aprendizagem. Cada igreja, conforme a
sua realidade, deve adaptar-se a fim de cumprir o que diz a lei dos homens (Lei
13.146, de 6 de julho de 2015) e a do Reino (Mc 16.15-18).
Existem inúmeros recursos que auxiliam
a inclusão. Abaixo, destacamos os principais:
1. Rampas, elevadores e barras. Estes recursos destinam-se àqueles
que usam cadeira de rodas. A inclinação das rampas seguirá as normas
estabelecidas por lei. As portas dos elevadores, e também as demais passagens
do templo, serão largas o bastante para possibilitar o trânsito dos
cadeirantes. Todos os acessos da igreja serão sinalizados com o Símbolo
Internacional de Acesso. Nenhuma área de circulação será obstruída com móveis.
Nos banheiros, o lavatório terá altura apropriada, e ao menos um box com
mobília adequada (vaso sanitário próprio e barras laterais).
2. Sinalização em relevo. São os pisos e mapas táteis que alertam
as pessoas com deficiência visual quanto à topografia do ambiente. Ao sentir,
com as mãos ou com os pés, as informações em relevo, o indivíduo poderá
circular com maior segurança e independência pelos recintos. Essa sinalização
adverte, entre outras coisas, quanto à presença de degraus, rampas, elevadores,
portas, janelas e telefones públicos.
3. A Bíblia em Braile. O braile é um sistema de leitura e de
escrita para pessoas com deficiência visual. Foi inventado pelo francês Louis
Braille em 1827.
No Brasil, a primeira Bíblia em
Braile foi lançada em 30 de novembro de 2002 pela Sociedade Bíblica do Brasil.
Essa Bíblia é composta por vários volumes e está disponível na Nova Tradução na
Linguagem de Hoje. Pessoas, bibliotecas e instituições de apoio podem se
cadastrar nos programas sociais da SBB e receber os volumes gratuitamente.
4. A linguagem brasileira de sinais, ou Libras. É um sistema
linguístico que comunica fatos, conceitos e sentimentos por meio de gestos,
expressões faciais e linguagem corporal. Essa língua, que possui regras
gramaticais próprias, é a usada pela maioria das pessoas com deficiência
auditiva no Brasil, com pequenas variações regionais.
Na igreja, os cultos e aulas de
Escola Dominical podem ser facilmente traduzidos à linguagem brasileira de
sinais por um obreiro treinado. Ações evangelísticas em hospitais e centros de
apoio às pessoas com deficiência auditiva também podem ser realizadas de forma
mais proveitosa se os crentes enviados souberem transmitir as Boas-Novas em
Libras.
O acesso ao aprendizado das Libras
felizmente é facilitado pela internet. É possível achar bons manuais,
dicionários de Libras e vídeo-aulas gratuitos. A professora Siléia Chiquini, da
Assembleia de Deus em Curitiba, vem desenvolvendo um grande trabalho junto aos
surdos, por meio do Ministério Mãos Ungidas. Na internet, ela compartilha seu
trabalho e experiência com os que desejam fazer a voz divina bem audível aos
que não podem ouvir a voz humana.
5. O professor mediador. A fim de que o ensino bíblico seja
inclusivo, as classes de Escola Dominical não devem agrupar, em uma sala à
parte, as pessoas com deficiência, ou com transtornos que dificultem o
aprendizado. Entretanto, os alunos com deficiência precisam, em sua maioria, de
maior atenção e cuidados. Nesse processo, o professor mediador é o responsável
por adaptar à realidade do aluno com deficiência o conteúdo que o professor
regente transmite à classe e as atividades realizadas pelos demais educandos.
O mediador deve considerar a
limitação do aluno especial, o seu ritmo e estilo de aprendizagem. Esse
profissional também é responsável por facilitar a interação social do aluno com
deficiência, evitando que fique isolado dos demais. Se o nosso objetivo é
incluir a todos, devemos estimular e treinar pedagogos, didatas e obreiros a
que se dediquem a esse ministério. É uma tarefa que demanda não apenas
conhecimentos bíblicos, mas igualmente instruções pedagógicas, didáticas e
psicológicas específicas. Hoje, graças a Deus, contamos com profissionais
competentes entre os membros de nossas igrejas, que muito poderão ajudar-nos no
cumprimento dessa missão. Portanto, ninguém ficará de fora do Plano da
Salvação.
IV. EXEMPLOS BÍBLICOS DE INCLUSÃO
Por toda a Bíblia, encontramos
personagens com algum tipo de deficiência. No entanto, é maravilhoso observar a
obra divina na vida de cada um deles, restaurando-lhes a dignidade, salvando-os
e até restabelecendo-lhes plenamente a sanidade física e mental. Vejamos alguns
deles. Ao conhecer melhor suas histórias, concluiremos que é possível, sim,
incluir a todos no Reino de Deus, pois o Pai Celeste não deseja que ninguém
fique de fora.
1. A inclusão de Mefibosete. Neto de Saul, Mefibosete ficou coxo
aos cinco anos quando sua ama, tentando salvar-lhe a vida, deixou-o cair (2 Sm
4.4). No capítulo 9, a reação de Mefibosete ao chamado de Davi revela o que ele
pensava de si mesmo, talvez por sua condição física: “Quem é teu servo, para tu
teres olhado para um cão morto tal como eu?” (v. 8). Ao ser beneficente para
com Mefibosete, Davi restaurou-lhe a autoestima. Mefibosete não viveria mais
como um indivíduo qualquer e sem importância. Todos os dias ele comeria pão à
mesa de Davi, como se fora um príncipe.
Segundo a Lei de Moisés, o jovem
Mefibosete não poderia exercer o sacerdócio, por causa de sua deficiência
física. Todavia, Deus o honrou de tal forma, que veio a estar à mesa de Davi. O
Pai Celeste não discrimina a nenhum de seus filhos. Ao aceitarem Jesus como
Salvador, as pessoas com deficiência passam a ser filhos de Deus, “logo,
herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8.17).
2. Parábola das bodas. Em Mateus 22.1-14, Jesus conta a história de
“um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”. Ele enviou os seus servos a
chamar os convidados que, pretextando afazeres diversos, ignoraram-lhe o
convite. Novamente o rei enviou os servos a trazer os convidados, porém “eles,
não fazendo caso, foram, um para o seu campo, e outro para o seu negócio; e, os
outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram” (vv. 5,6). O rei,
então, decidiu trazer às bodas todo aquele que seus servos encontrassem pelo caminho,
“e a festa nupcial ficou cheia de convidados” (v. 10).
O rei poderia ter ordenado aos servos
que fossem “às saídas dos caminhos” e distribuíssem, a todos quantos
encontrassem, o jantar preparado, os bois e cevados já mortos. Contudo,
preferiu trazer “os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos” ao seu
palácio (Lc 14.21). Graças à sua inclusão, a cerimônia ganhou vida, alegria e
muita beleza.
3. Acenos e uma tábua de escrever. O sacerdote Zacarias, ao receber
de Gabriel a notícia de que sua esposa daria à luz um filho, não creu. Por
isso, ficou mudo até o dia em que se cumpriram as coisas anunciadas pelo anjo.
Observe, em Lucas1.21-23, que a mudez de Zacarias não o impossibilitou de
comunicar-se com as pessoas que estavam no Templo. Por acenos, o sacerdote
conseguiu fazer-se entender. Alguns versículos à frente, vemos mais um recurso
usado por Zacarias: “E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu...” (v.
63).
O que se conclui da narrativa
sagrada? Todos, apesar de suas limitações, podem receber a comunicação do
evangelho e, assim, experimentar a vida eterna. Se naquele tempo já era
possível aos mudos se comunicar, hoje, com os recursos didáticos e tecnológicos
de que dispomos, podemos integrar mais facilmente as pessoas com deficiência.
4. Uma figueira no lugar certo. Em Lucas 19, lemos sobre o encontro
de Zaqueu e Jesus. “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que
havia ali um homem, chamado Zaqueu... E procurava ver quem era Jesus e não
podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo
adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali.
E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe:
Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar em tua casa” (vv. 1-5).
Zaqueu estava em desvantagem, pois
era de baixa estatura. Se a figueira não estivesse exatamente naquele lugar,
ele não teria conseguido ver Jesus, por mais que se esticasse, ou ficasse na
ponta dos pés. Assim como Zaqueu, muitas pessoas com deficiência querem ver a
Jesus, e certamente frequentariam nossas igrejas se soubessem que os templos
foram devidamente preparados para recebê-las.
5. Quatro amigos esforçados. Lemos, em Marcos 2.1-12, sobre a boa
vontade de quatro homens em conduzir um paralítico a Jesus. Esse quarteto não
apenas era esforçado, mas tinha fé. Eles sabiam que Jesus era tudo o que o
paralítico precisava (v. 5). Por isso, “descobriram o telhado onde estava e,
fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico” (v. 4).
Esses homens nos ensinam que não
basta ter um templo adaptado. É preciso ter fé e força de vontade o bastante
para, literalmente, buscar as pessoas e levá-las ao local onde a salvação está.
V. OS VELHOS
TERÃO SONHOS
“O ornato dos jovens é a sua
força; e a beleza dos velhos, as cãs” (Pv 20.29). Que versículo maravilhoso. A
Palavra de Deus é tão inclusiva, que vê os cabelos brancos não como decadência,
mas como beleza, honra e triunfo. O Pai Amado nos inclui desde o berço à
sepultura, pois nos ama com um amor inexplicável e eterno. E, quando nossa
vida, aqui, cessar, não seremos esquecidos, pois Ele nos receberá em suas
mansões.
1. As Boas-Novas aos idosos. A mensagem da Salvação deve ser
pregada aos idosos nos asilos, hospitais, praças públicas e, também, por meio
do bom testemunho de seus filhos e netos que, em vez de olhá-los como peso
morto, hão de vê-los como lembrança viva de um tempo que não precisa ir embora.
No entanto, a fragilidade da vida e a iminência de seu término devem
impulsionar-nos a evangelizar os idosos “a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4.2),
não os admoestando asperamente, mas “como a pais” e “como a mães” com todo amor
e devoção (1 Tm 5.1,2).
Não somente a alma dessas pessoas
de cabelos brancos é preciosa a Deus, mas também o seu trabalho. Em sua
velhice, elas podem fazer o Reino de Deus avançar, anunciando a esta geração e
a todos os vindouros, as maravilhas do Senhor, sua força e poder (Sl 71.17,18).
2. Alzheimer e demais doenças relacionadas à idade. Como falar de
Cristo a pessoas que já não se lembram dos seus familiares e nem de si mesmas?
Como fazê-las entender o Plano da Salvação e levá-las a Jesus, se lhes falta
autonomia para alimentar-se, tomar remédios, ou banhar-se? Diante de tal
cenário, resta à igreja ter fé suficiente para obedecer à ordem de Jesus ao pé
da letra: pregar “a toda criatura”. E, novamente, os conselhos de Paulo a
Timóteo aplicam-se: “a tempo e fora de tempo”, com amor e paciência, não sendo
ásperos, mas como a pais e como a mães .
Ao expormos a mensagem de salvação
às pessoas com Alzheimer, é preciso crer que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10.17).
Com paciência, devemos esperar o que não vemos, e confiar na obra do Espírito
Santo:
Porque, em
esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o
que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com
paciência o esperamos. E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas
fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os
corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede
pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. (Rm
8.24-28)
Mesmo em sua ausência da
realidade, os idosos, ou pessoas com demência, devem ser honradas: “Diante das
cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e terás temor do teu Deus. Eu
sou o Senhor” (Lv 19.32).
No episódio narrado em Gênesis
9.20-27, Noé não estava doente, nem sofria de demência. Contudo, ao
embebedar-se, tornou-se mentalmente vulnerável e inclinado a agir fora da razão.
Por isso, “descobriu-se no meio de sua tenda” (v. 21). Quando Noé despertou do
vinho e soube o que seu filho menor lhe fizera, o amaldiçoou. A atitude jocosa
de Cam alerta-nos a sermos respeitosos para com os idosos, mesmo que eles ajam
de forma contrária a um comportamento socialmente aceitável.
Conclusão
No ano de 2014, fiquei internado
por um espaço de dois meses. Nesse período, minha esposa, Marta Doreto, teve
oportunidade de evangelizar diversos anciãos no Hospital Barra D’Or, no Rio de
Janeiro. Alguns daqueles velhinhos já estavam em estado terminal; seus momentos
de lucidez eram raríssimos. Sabendo disso, minha esposa orou, pedindo a Jesus
que eles despertassem, ainda que por alguns poucos minutos, para que ela lhes
pregasse o evangelho.
Foi assim que minha esposa
conseguiu ganhar alguns daqueles anciãos para Jesus. Alguns se comunicavam
apenas mexendo as pálpebras, respondendo afirmativamente às perguntas: “O
senhor crê no que eu acabei de ler na Bíblia, que Jesus, o Filho de Deus,
morreu e ressuscitou para salvá-lo de seus pecados? Quer recebê-lo como seu
Salvador? Deseja que eu faça uma oração em voz alta, confessando Jesus como
Salvador, enquanto o senhor a repete com o coração?”.
Um desses queridos velhinhos era
um judeu de 103 anos e, segundo informaram à minha esposa, aquelas três leves
piscadas às suas indagações foram os únicos sinais de comunicação dele em muito
tempo. Um mês depois, ele foi para o céu com Jesus.
Não podemos ver os cabelos brancos
como empecilhos à pregação da mensagem da cruz, mas como a derradeira
oportunidade que um ancião ainda tem de receber Jesus como seu Salvador
pessoal. Por isso, incluamos a todos em nossas ações evangelísticas, a fim de
que todos, a tempo e a fora de tempo, recebam Jesus.
Autor:
Claudionor de Andrade
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