Os escritos do
profeta Isaías são uma das mais grandiosas produções teológicas do Antigo
Testamento. Sua mensagem é profunda e parte de alguém que conhecia o ambiente
onde estava inserido, de modo que, tomado pela inspiração divina, foi muito
assertivo nas suas profecias, especialmente as que predisseram a vinda
messiânica de Jesus Cristo. Nenhum outro profeta se referiu a esse fato com
tantos detalhes quanto ele. Sua pregação foi marcada por uma paixão sacerdotal,
descrevendo Cristo, seu serviço e sacrifício com muita clareza, sendo por isso
mesmo chamado de o evangelista do Antigo Testamento ou ainda o “Evangelho de
Isaías”. Seu livro também é chamado de “O livro da Salvação”, sendo uma das
mais importantes obras da literatura bíblica hebraica depois do Pentateuco. O
próprio Jesus leu Isaías: “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num
dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler. E
foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar
em que estava escrito” (Lc 4.16-17). Ao ler alguns versículos de Isaías
capítulo 61, Jesus disse que essa profecia se cumpria nEle, se auto--declarando
o Mäshiah
(Messias em hebraico), o que causou grande alvoroço entre os presentes (Lc
4.28-30). Outra citação importante de Isaías no Novo Testamento está registrada
em Atos 8.26-35. Assim sendo, tanto o conteúdo do livro quanto sua autoria são
ratificados e confirmados no Novo Testamento.
O profeta tem
uma beleza poética e riqueza literária ao escrever que encanta qualquer leitor.
Por isso, ele é também chamado de “Rei dos Profetas”. Muitas expressões e
palavras utilizadas não se encontram em nenhum outro lugar do Antigo
Testamento. Dentre as mais importantes, destacam-se o “Renovo do Senhor” (Is
4.2), “Emanuel” (Is 7.14), “O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is
9.2), “todos se alegrarão perante ti” (Is 9.3), “seu nome será Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6), “rebento
do tronco de Jessé” (Is 11.1), “anunciador de boas-novas” (Is 41.27), “meu
servo” (Is 42.1), “o meu Eleito, em quem se compraz a minha alma” (Is 42.1), e
“o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos
sarados” (Is 53.5). Um dos ápices das profecias de Isaías se dá nos capítulos
52 e 53, quando ele compõe o Cântico do Servo Sofredor, cujo conteúdo salvífíco
aponta para o sofrimento, padecimento, morte e ressurreição do Messias.
Os escritos de
Isaías nos enchem de esperanças e, com isso, nos possibilitam sonhar com um
mundo melhor e mais justo, sendo possível uma antecipação do Reino de Deus com
todas as suas benesses entre os homens aqui e agora. Seus escritos mostram
também que, apesar de enfrentarmos nesta vida situações difíceis e até mesmo
aparentemente irreversíveis, como no caso da quase destruição do povo de Deus,
ainda assim, a misericórdia, a bondade e o amor de Deus vão além do pecado
humano, do caos situacional, do poder dos inimigos e das circunstâncias
desesperadoras.
I - INFORMAÇÕES
AUTORAIS
1. Tema
Seu tema
principal está relacionado às previsões da vinda do Messias, enfatizando a
salvação recebida somente pela graça. O livro mostra ainda que Deus não
permitirá a desobediência do povo da promessa, e essa será tratada com a devida
purificação através do sofrimento, primeiramente do próprio povo e,
vicariamente, através de Cristo. O povo será levado para o cativeiro, porém
Deus intervirá milagrosamente e lhe trará libertação, quase como que num
segundo êxodo, agora não mais saindo do Egito, e sim da Babilónia. Entretanto,
o cativeiro será um período difícil e desesperador; porém, as promessas não
falharão.
Esta profecia,
que na sua época ainda era coisa do futuro, bem como seu posterior cumprimento,
servem de fundo histórico e apontam profeticamente para o estado degradante que
a desobediência e o pecado causam na humanidade, bem como suas terríveis
consequências, mas apontam também para o grande êxodo de todo o povo de Deus em
toda a terra, que seria liberto do poder do pecado e das algemas do cativeiro
de Satanás, através do sacrifício vicário de Cristo, aguardando um Reino eterno
de paz, justiça e amor, onde Deus reinaria para todo o sempre. Assim, pode-se
afirmar que o tema central de Isaías é o amor de Deus demonstrado no socorro ao
seu povo através do sacrifício do Servo Sofredor, ou seja, a grande salvação de
Deus.
2. Data
As descobertas
dos rolos do Mar Morto lançaram muitas luzes sobre Isaías, cujos textos
provavelmente foram copiados entre 150 a.C. a 50 a.C. Sua importância se dá
pelo fato de ser o manuscrito mais inteiro e antigo já descoberto do Antigo
Testamento, atestando sua veracidade, fidedignidade e semelhança com os demais
manuscritos posteriores preservados. Porém, a citação mais antiga de Isaías
está presente no Eclesiástico (livro apócrifo), cuja cópia é datada
aproximadamente entre 280 a.C. a 180 a.C.
O livro de
Isaías começou a ser escrito provavelmente antes do ano de 740 a.C., tendo sido
terminado no ano 701 a.C., período esse que corresponde ao tempo de ministério
do profeta, conforme descrito em Isaías 1.1. Essas datas são aproximadas e
levam em conta a morte do rei Uzias. Entretanto, outra possibilidade é que,
como o livro possui três partes, a primeira delas tenha sido escrita de 740 a
698 a.C., e a segunda e terceira partes de 697 a 680 a.C., terminando no
reinado de Manassés.
3. Autoria
As correntes
teológicas ortodoxas têm consenso de que Isaías é o autor deste livro, mas
pesquisas recentes apontam, especialmente a crítica textual, para o fato de que
o profeta não poderia ter previsto com tanta clareza eventos futuros como,
citar o nome de Ciro, o persa, além de detalhes do exílio e da volta do exílio,
a não ser por alguém que estivesse passando por aqueles momentos. No entanto,
essas suposições não podem ser aceitas porque tiram o caráter preditivo da
inspiração profética e enfraquecem a proeminência de Deus sobre as demais
divindades cultuadas na época, que eram divindades falsas. O testemunho das
escrituras e da história é que os profetas de fato fizeram predições que apenas
Deus sabia de antemão. Logo, foram inspirados milagrosamente a dizer o que
disseram. Além disso, o profeta Isaías, em especial, era um profundo conhecedor
da política, economia, sociedade e religião de sua época, pois vivia no palácio
real, podendo, dessa forma, fazer discernimentos inspirados por Deus como
poucos profetas fizeram. Por isso, seus escritos são considerados como dos mais
importantes do Antigo Testamento. Alguns dos quais nem foram proferidos
oralmente, apenas escritos (Is 8.16; 30.8). Ele poderia também ter se utilizado
de amanuenses para alguns de seus escritos.
Tem-se afirmado
que existem duas ou três grandes porções distintas em Isaías, diferentes entre
si no estilo literário e nas abordagens, embora estejam em unidade entre si.
Uma que vai do capítulo 1 ao 39, outra do 40 ao 55 e outra do 56 ao 66,
organizadas em épocas diferentes, chegando alguns a dizer que poderiam ter sido
escritas durante o exílio, ou seja, na Babilónia e no período pós-exílico, em
Jerusalém. Contra essa afirmação, pode-se dizer que a mudança de estilo pode
ser resultado da variação de propósito do autor, mudança do destinatário,
estado de ânimo, a idade, ou mesmo outra influência sobre o autor que,
necessariamente, não indica que este seja outra pessoa.
Ao ler o livro,
ficam claras pelo menos duas ou três divisões. Elas caracterizam os momentos e
problemas diferentes que o livro de Isaías cobre na história do povo israelita.
Existe uma mudança a partir do capítulo 40. O estilo se toma mais poético e
teórico. O tom toma-se conciliatório em vez de condenador. Os oráculos de
acusação e juízo - que compunham a maior parte dos primeiros 39 capítulos -
tomam-se bem mais raros. A visão profética de um novo tempo que viria sobre
Israel ganha mais vida e vigor.
Essa divisão
tem dado margem a que a segunda e a terceira porções do livro sejam atribuídas
a um Dêutero-Isaías, ou, ainda, a terceira porção a um Trito-Isaías. Contra
essa argumentação, temos o fato de a tradição rabínica judaica e histórica da
igreja sempre afirmar que foi Isaías, de fato, o autor, bem como as várias
citações de Isaías, inclusive da segunda e terceira porções, no Novo
Testamento. Tal é a importância e a veracidade de Isaías que o Novo Testamento
faz mais de 400 citações diretas e indiretas do livro, citando o profeta
nominalmente mais de 20 vezes, muito mais do que qualquer outro profeta. As
descobertas dos rolos do Mar Morto, datadas do século II a.C., podem ser outra
prova da unidade do livro de Isaías e de seu autor único, visto que um dos
manuscritos contém todos os capítulos de Isaías como os conhecemos hoje,
apontando, dessa forma, para um só autor e uma só obra. Essa mesma afirmação
vale para os que defendem uma escrita posterior de Isaías, colocando-a no
século II a.C. Se assim fosse, os manuscritos do Mar Morto seriam cópias muito
recentes ou mesmo os originais, mas esta hipótese não se sustenta diante dos
fatos. Nem mesmo a Septuaginta, escrita no século III a.C., fornece qualquer
pista de que Isaías tivesse tido mais de um autor, nem mesmo uma divisão entre
o “Primeiro” Isaías (capítulos 1 a 39) ou o Dêutero-Isaías (capítulos 39 e 40)
ou ainda escrito em datas muito distantes entre as três partes principais do
livro. Dessa forma, Isaías deve ser lido como um único livro, apesar de haver
inúmeras maneiras de ser analisado e dividido, além do necessário respeito para
com estudiosos do assunto, tendo o cuidado para não negar seu caráter profético
e divino.
Há uma tradição
que afirma que Isaías era sobrinho do rei Amasias; logo, ele era de linhagem
nobre e certamente vivia na corte real, desfrutando de alguns privilégios que
lhe serviram de base e capacitação para ter o amplo ministério que teve. Era
casado com uma profetiza (Is 8.3) e teve dois filhos com ela, Sear-Jasube (“um
resto volverá”) (7.3), cujo nome evoca as conquistas assírias que deixariam
somente um remanescente de sobreviventes, e Maer-Salal-Hás-Baz (“pronto ao
saque, rápido aos despojos”) (8.3b), referindo-se aos assírios saqueando o
Reino do Norte (Israel) que havia se aliançado com outras nações para ameaçarem
o Reino do Sul (Judá). Dando esses nomes aos filhos, ele se compara ao profeta
Oseias, que levou seu ministério tão a sério que envolveu sua família e o nome
dos filhos. Certa vez, quando foi advertir o rei Acaz, levou seu filho
Sear-Jasube junto, para que este fosse um testemunho profético vivo (7.3)
diante da incredulidade do rei. O final de sua vida foi trágico, segundo a
tradição rabínica: ele foi serrado ao meio durante o reinado de Manassés.
Antes de ser
profeta, Isaías era o cronista que escrevia as histórias reais do rei Uzias:
“Quanto ao mais dos atos de Uzias, tanto os primeiros como os derradeiros, o
profeta Isaías, filho de Amoz, o escreveu. (2 Cr 26.22). Portanto, esse texto
bíblico confirma o fato de ele ter vivido por um longo tempo no palácio real e
desfrutado de privilégios reais. Essa informação aponta que o profeta, para ser
cronista, era um erudito escritor que provavelmente teve uma formação escolar
muito avançada em relação àquela época, demonstrando que o profeta de Deus, nos
tempos bíblicos e muito mais hoje, pode perfeitamente conciliar estudos
acadêmicos com unção divina, desfazendo a compreensão errónea de que os estudos
ou a teologia esfriam a fé e a devoção. O leitor poderá argumentar que esta
realidade é do passado, mas a prova de que é presente é o fato de as igrejas
pentecostais no Brasil não possuírem universidades (apenas faculdades) e não
terem nenhum programa stricto sensu
(mestrado e doutorado) para fomentar estudos e pesquisas sobre a teologia
pentecostal, sendo esta, em boa parte, dependente das teologias das igrejas
históricas, muitas das quais negam a experiência com o Espírito Santo nos
moldes das igrejas pentecostais. A absorção de teologias cessacionistas tem ocasionado
esfriamento espiritual das igrejas pentecostais na questão da liberdade à
operação do Espírito Santo e desvios em relação à compreensão da atuação deste
por falta de teologias pentecostais, afastando algumas igrejas desta nova
maneira de ser igreja que os pentecostais trouxeram para o mundo evangélico.
4. A missão do profeta
A missão que
Isaías recebeu foi bastante difícil, tendo em vista a desobediência e rebeldia
que o povo se encontrava. Portanto, num contexto imediato, suas profecias
cairiam no vazio da estupidez e surdez de um povo pecador e afastado de Deus
(Is 6.9-10), muito embora, num contexto de longo prazo, suas profecias se
cumpririam. Deus precisava mostrar para o povo que eles eram rebeldes e que,
mesmo ouvindo sua Palavra, não se converteriam. Nesse sentido, Isaías não teve
tempo em vida de ver o cumprimento de suas predições, pois, dada a grandeza de
suas revelações, elas se cumpririam na história da humanidade em tempos
vindouros distantes, tanto as que se referiam a Israel, quanto as que se
referiam a toda raça humana. Israel seria levado ao exílio, experimentaria um
novo êxodo, um remanescente voltaria para a Terra Prometida, viria um grande
rei, um Messias que cumpriria todas as promessas de Deus em relação a Israel,
mas este Messias teria que padecer grandes dores para remir o povo escolhido;
entretanto, o povo escolhido rejeitaria o Messias, e isso proporcionaria a
salvação dos gentios que viviam em densas trevas. Num futuro ainda mais
distante, o povo escolhido seria resgatado novamente; então, aí sim, seria
estabelecido um reinado perpétuo de paz, prosperidade e justiça na terra que
alcançaria todos os povos, tribos, raças e nações. Assim sendo, suas profecias
apontam para o dia em que todos os povos da terra, judeus e gentios, estarão
sob o reinado do Reino de Cristo.
Todos esses
fatos apontam para a grandiosidade das profecias de Isaías e atestam para sua
veracidade histórica e profética, contrariando algumas correntes teológicas que
tentam tirar do profeta seu caráter preditivo. Quando Deus disse ao profeta que
seu chamado causaria surdez - realidade esta que era para Israel - talvez, isso
ainda hoje seja verdadeiro para ouvidos céticos.
II - OBJETIVOS
DE ISAÍAS
O profeta
Isaías teve muita ousadia em sua atuação pública; suas profecias eram
majestosas e repletas de nobreza e beleza poética; por isso, ele é um dos
profetas mais lidos e celebrados do Antigo Testamento e também um dos que mais
falou a respeito da vinda do Messias. Isso revela a importância que deve ser
dada ao mesmo para perceberem-se as implicações que esse profeta tem para os
dias atuais. Diante disso, Isaías tem os seguintes objetivos ao escrever:
1. Anunciar o juízo de Deus diante do
pecado
Israel e as
nações vizinhas estavam em desacordo com os preceitos justos de Deus, ofendendo
gravemente a santidade dEle. Porém, era necessário que Deus, diante de sua
justiça e misericórdia, fizesse o povo saber com clareza quais eram seus
pecados e quais as consequências dessa desobediência.
2. Falar contra a idolatria e a falsa religião
O povo de
Israel estava sendo governado por alguns reis que desprezaram. A eles se
aliaram alguns sacerdotes cujo compromisso era apenas manterem a religião
institucional. Isso se fez refletir numa religiosidade vazia, hipócrita,
ritualística e sem sentido espiritual para o povo, levando-os a se desviarem
dos caminhos do Senhor.
Além da falsa
religiosidade, havia a adoração a ídolos. Embora o ídolo nada seja, pois é
fabricado pelo homem (Is 2.8), ninguém se aproxima e o adora sem que seja
afetado por ele, mesmo que este não tenha poder para fazer mal ou bem; fica
afetado porque é instalada uma cegueira espiritual em seu coração e mente (Is
44.18), de modo que passa a adorar o falso como verdadeiro sem se dar conta do
grave erro (Is 44.20) e se toma igual ao ídolo (SI 115.8; Os 9.10) em
estultícia e ignorância. O profeta é incisivo ao advertir contra a adoração de
ídolos, destacando a necessidade de adorar Jeová, pois somente Ele pode predizer
e fazer acontecer (Is 44.7) e é o Senhor da história (Is 40.22-25; 43.14-15).
Portanto, ídolo é tudo aquilo que exige uma lealdade que só é devida a Deus.
No Novo
Testamento, a idolatria é usada no sentido metafórico, sendo considerado tudo
aquilo que ocupa o coração da pessoa, que toma as forças e a primazia, aquilo a
que ela se dedica, o lugar para onde a pessoa vai para se satisfazer, ao invés
de Cristo ocupar este lugar primeiro. Nesse sentido, pode-se colocar a cobiça
(Ef 5.5), as riquezas (Mt 6.21), o poder (Mt 20.25-28), ou qualquer coisa que
ocupe o lugar de Deus. A idolatria foi chamada de obra da carne (G1 5.19-20) e
deve-se fugir dela (1 Co 10.14).
3. Denunciar a injustiça social
O povo de Deus
havia se tomado orgulhoso e egoísta como as demais nações. Isso fez com que os
pobres dentre o povo fossem humilhados e explorados pelos ricos e pelos
governantes (Is 10.2; 26.6; 32.7; 41.17); mas, em contrapartida, o Deus justo e
misericordioso faria justiça ao pobre (Is 11.4), daria alimentação e descanso a
eles (Is 14.30), serviria de refugio para eles (Is 25.4) e seria portador de
boas notícias (Is 61.1).
Ainda hoje, a
voz do profeta ecoa para denunciar esquemas de corrupção, injustiça e
infidelidade nas várias esferas sociais (política, económica e religiosa),
advertindo que Deus está atento e sempre virá em socorro dos desvalidos,
desamparados, injustiçados e marginalizados.
4. Anunciar a vinda do Messias
Esse é o
objetivo mais importante de Isaías, porque diante da desobediência, aliada ao
fato de que as pessoas não conseguiam encontrar o caminho certo para Deus, a
única solução possível seria a vinda do Messias que, através do seu sofrimento,
faria com que o povo se voltasse para Deus, “porque as iniquidades deles levará
sobre si.” (Is 53.11). A vinda do Messias aponta para o caráter misericordioso
e redentor de Deus, mesmo Israel sendo um povo rebelde. Por mais de dez vezes,
o profeta aponta para Jeová como o Redentor. O autor cita pelo menos dezessete
profecias que se referem ao Messias vindouro.
III - CONTEÚDO DE ISAÍAS
De modo geral,
os conteúdos proféticos bíblicos apresentam as seguintes temáticas, que também
estão presentes em Isaías: (1) profecia como instrução e orientação ao povo;
(2) discernimento e interpretação de fatores sociais, económicos, políticos e
religiosos, presentes ou iminentes; (3) acusação, condenação e juízo; e (4)
esperança e promessa de restauração com base nas alianças e na misericórdia de
Deus.
Isaías é
veemente contra a corrupção, a aliança política duvidosa, a idolatria, os
excessos, a opulência, a ostentação, o orgulho, a opressão e toda sorte de
injustiças. Levanta-se contra reis, autoridades, juízes, políticos,
comerciantes, agricultores poderosos e toda sorte de exploradores do povo,
sempre em defesa dos mais fracos, dos pobres, das crianças e das viúvas.
Algumas profecias de Isaías são breves e frequentemente mudam a temática
abordada (entre os capítulos 4 e 5, por exemplo), enquanto outras são densas e
exploram exaustivamente o assunto (capítulos 52 e 53).
Os conteúdos de
Isaías são bastante citados no Novo Testamento, especialmente os capítulos 40 a
55. Certamente isso ocorre porque esse bloco de profecias aponta para o Servo
Sofredor, Cristo, aparecendo 21 vezes a palavra ‘ebed (servidor, servo), que algumas
vezes se referem ao povo de Deus, mas que, na maioria das vezes, fazem
referência ao Messias, que deu sua vida para salvar a humanidade. Nesse mesmo
bloco de profecias, são encontrados os quatro cânticos do Servo do Senhor
(42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12).
1. Conteúdo social, político e religioso
No aspecto
exposto neste item, podemos dividir sua mensagem em duas grandes partes: social
e política. Todas elas, porém, são permeadas pelo conteúdo religioso. Assim, no
primeiro período de suas profecias, sua preocupação é mais social que
religiosa, fazendo coro ao profeta Amós do Reino do Norte, tecendo críticas à
classe dominante pela opulência, vaidade e luxo estonteante que os levam a
cometer injustiças, embora professem suas crenças e suas atitudes em nome da religião.
Isaías apela para o terrível “Dia do Senhor”, no qual Ele visitará toda maldade
social, política e religiosa, caso o povo não aceite o convite do profeta para
o arrependimento: “Cessai de praticar o mal aprendei a fazer o bem.” (Is 1.17).
Na questão
político-religiosa, Isaías evoca as promessas davídicas as quais Deus jurou que
cumpriria, não apenas com respeito à dinastia de Davi, mas também em relação à
Jerusalém como cidade escolhida. Neste sentido, o profeta tem esperança de que
Deus, ao final, salvaria seu povo. Mesmo assim, ele denuncia os pecados destes,
especialmente a falta de fé e confiança, demonstradas quando são feitos
conchavos políticos, alianças com nações pagãs e confiança em exércitos
estrangeiros, ao invés de confiarem unicamente em Deus e em sua salvação. A
grande esperança que garante a salvação em Isaías é o Messias davídico que
implantará a paz, a justiça e o direito perpetuamente.
2. O Deus de Isaías
O profeta
descreve o caráter de Deus (Javé) de maneira brilhante, chamando-o de Santo de
Israel 25 vezes; Ele é o Salvador, relacionando essa palavra à redenção e
livramento, pois seria sem sentido apregoar justiça e juízo sem prover um
grande livramento no final; Ele é o Redentor e o Único e Supremo Governante, em
contraste com outros deuses que nada são (Is 37.19); é Ele quem carrega e cuida
do seu povo (Is 46.1-9) e faz novos céus e nova terra (Is 65.17; 66.22).
3. O Espírito de Deus
Isaías é o
profeta que mais fala sobre o Espírito de Deus, mais que qualquer outro profeta
do Antigo Testamento. A referência mais importante é quando ele afirma que o
Espírito do Senhor (Javé) repousará sobre o “rebento de Jessé” (Cristo) com “o
espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza,
o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.” (Is 11.1-2). Há promessa de
um derramamento tal do Espírito que “o deserto se tomará em campo fértil” (Is
32.15) e a Palavra do Senhor não se desviará dos convertidos nem de seus filhos
(Is 59.20-21); o Espírito sobre Cristo “trará justiça às nações” (Is 42.1) e o
“ungiu para pregar boas- novas aos mansos”, “restaurar os contritos de
coração”, “proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos”
(Is 61.1); e o Espírito do Senhor trará descanso ao seu povo (Is 63.14).
4. O Messias
O profeta
afirma que Jesus, o Messias, é o verdadeiro herdeiro do trono de Davi (Is 9.7;
cf. Lc 1.32-33) e Ele manifestará seu papel como Messias ao realizar milagres
(Is 29.18; 35.5-6; cf. Mt 11.3-5; Lc 7.22). Ele também estabelecerá a Nova Aliança
(Is 55.3-4; cf. Lc 22.20) e um dia estabelecerá um Reino Messiânico, reinará e
será adorado (Is 9.7; 66.22-23; cf. Lc 1.32-33; 22.18,29-30; Jo 18.36).
5. A Escatologia e a glória do Reino futuro
Isaías é um
livro escatológico, pois aponta para várias características somente possíveis
no Reino messiânico, onde o descendente de Davi se assentará perpetuamente no
trono. A glória do Senhor invadirá toda terra (Is 62.2), toda a terra desejará
ver essa glória (Is 66.18-19), e a glória do Senhor será manifestada em todo o
seu povo (Is 61.3). Essa glória futura será um evento escatológico ainda por
acontecer, mas também já é presente através do Reino de Deus que já está entre
nós pela obra redentora de Cristo, tendo como um dos seus sinais a Igreja de
Cristo e todas as iniciativas que manifestam a glória de Deus através da luta
pela justiça, equidade e paz. Se investirmos tempo em nossa comunhão com Deus e
nosso relacionamento com nosso próximo, servindo-o em amor, teremos a
oportunidade de viver um pouco, enquanto ainda estivermos na terra, do que será
a glória futura.
6. Esboço do conteúdo do livro de Isaías
O livro de
Isaías, como já mencionado anteriormente, é composto por coleções de escritos,
como a maioria dos livros proféticos. Portanto, são profecias registradas
durante um período de tempo e agrupadas conforme um determinado assunto, ou
ainda, demonstram um amadurecimento do próprio profeta ao escrever. Assim, do
capítulo 1 ao 39, o enfoque de Isaías é o juízo divino sobre Judá e Jerusalém e
sobre as nações vizinhas através da Assíria, especialmente os capítulos 13 ao
23 que tratam exclusivamente das nações pagãs. Na segunda e terceira metade do
livro, do capítulo 40 ao 55 e do capítulo 56 ao 66, respectivamente, Isaías se
volta para a salvação do povo, depois da punição pelo pecado ao retornarem do
cativeiro babilónico. Ele escreve sobre a glória futura do povo de Deus através
do Servo do Senhor, que é Cristo, que salvará seu povo através de seu próprio
padecimento e triunfo. Segue adiante um esboço de Isaías:
I. Profecias de
repreensão e promessas (1.1-6.13);
II. Primeira
coleção de profecias sobre o Messias (7.1-12.6);
III. Profecias
contra as nações estrangeiras (13.1-23.18);
IV. Primeira
coleção de julgamento e promessa (24.1-27.13);
V. Profecias e
ais contra os infiéis de Israel (28.1-33.24);
VI. Segunda
coleção de julgamento e promessa (34.1-35.10);
VII. Conteúdo
histórico: Ezequias (36.1-39.8).
VIII. Segunda
coleção de profecias sobre o Messias: anúncio da paz (40.1-55.13):
a) Prólogo sobre a grandeza e o cuidado do Senhor (40.1-31);
b) A libertação da Babilónia e retomo à Terra Prometida (41.1 -48.22);
c) O Servo Sofredor e o projeto de reconstrução de Jerusalém
(49.1-53.12);
d) O consolo do Príncipe da Paz (54.1-55.5);
e) Epílogo de exortação e consolo na Palavra do Senhor (55.6-13).
IX. Profecias
diversas: apesar da depravação e do sofrimento, a esperança do Reino é
anunciada com glória (56.1-66.24):
a) Graça para os gentios e iniquidade e perdão de Israel (56.1-57.21);
b) Depravação de Israel e restauração na intervenção divina (58
1-60.22);
c) Promessas de libertação e a grandiosidade do Reino (61.1-66.24).
Autor:
Claiton Ivan Pommerening
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